“Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele
que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça.” - Romanos 4:5
Poucos
assuntos dentro do Cristianismo tem tanta importância – E, ao mesmo tempo,
falta de compreensão – que a maneira pela qual os chamados por Deus são
justificados (Rm 8:30). Importância, porque seria impossível ter paz tanto
agora quanto na eternidade se a ira de Deus estivesse continuamente sobre nós
como está sobre todos os injustos (Rm 1:18). Falta de compreensão, porque desde
o tempo dos apóstolos heresias ja eram difundidas a respeito disso, e enganavam
a muitos. Reconhecendo esse problema mesmo no século XVIII, John Wesley prega um sermão intitulado “A Justificação
pela Fé”:
“(...)Para fazer justiça, pelo que me toca, à vasta importância do
assunto; para salvar os que sinceramente buscam a verdade da “vã disputa e
contenda de palavras”; para esclarecer a confusão de pensamento em que tantos
se têm abismado, em razão da discórdia existente, e para lhes dar verdadeiras e
justas concepções acerca desse grande mistério de piedade, empreendo mostrar:
1.
Qual é o fundamento geral de toda a doutrina da justificação;
2.
O que é a justificação;
3.
Quais são os justificados; e
4.
Em que termos são eles justificados.
1. (...)Este é, pois, o fundamento
geral de toda a doutrina da justificação. Pelo pecado do primeiro Adão, que
não somente era o pai, mas também o representante de todos nós, decaímos da
graça; tornamo-nos todos filhos da ira, ou, na expressão do apóstolo, “o juízo
veio sobre todos os homens para a condenação”. Da mesma forma, mediante o
sacrifício pelo pecado, feito pelo segundo Adão, como nosso representante, Deus
tão perfeitamente se reconciliou com todo o mundo, que com ele fez um novo
pacto, de modo que, uma vez preenchida a simples condição imposta, “não há mais
condenação” para nós, mas “somos justificados livremente pela sua graça,
mediante a redenção que há em Cristo Jesus”.(...)
2. Mas, que é ser justificado?
Que é justificação? Este é o segundo ponto que me proponho
ventilar. Das observações que precederam, é evidente que a justificação não
consiste em ser o homem desde agora transformado em justo. Isto é santificação,
que por sua vez vem a ser na verdade, em alguma medida, o fruto imediato da
justificação, sem deixar de ser, não obstante, outro dom de Deus, de natureza
totalmente diversa. Um implica no que Deus faz por nós através de seu Filho; o
outro se prende ao que o mesmo Deus opera em nós pelo seu Espírito.
A clara noção bíblica de justificação é o perdão de pecados. É o
ato de Deus Pai, pelo qual, em atenção a propiciação feita pelo sangue de seu
Filho, “mostra sua justiça (ou misericórdia), pela remissão dos pecados
passados”. Deus não submeterá aquele pecador ao sofrimento merecido, porque o
Filho de seu amor sofreu por ele. A essa altura somos “aceitos através do
Bem-amado”, “reconciliados com Deus mediante seu sangue”; Deus nos ama,
abençoa-nos e guarda-nos para o bem, tratando-nos como se nunca tivéssemos
pecado.
3. (...)Quais são os
justificados? E o apóstolo expressamente responde: o ímpio: “Ele (Deus)
justifica o ímpio”, o ímpio de toda espécie e categoria; e ninguém, senão o
ímpio (...)“que não faz boas obras”, que nenhuma obra de justiça faz antes de
ser justificado, que não faz qualquer coisa que seja boa, verdadeiramente
virtuosa ou santa, mas somente pratica o mal, e isto continuamente. Seu coração
é necessária, essencialmente mau, até que o amor de Deus nele seja derramado.
Enquanto a árvore for má, assim serão os seus frutos, “porque a árvore má não
pode dar bons frutos”. Todas as obras feitas antes da justificação não são
boas, no sentido cristão, pelo fato de não resultarem da fé em
Jesus Cristo (embora elas possam provir de alguma espécie de fé em
Deus).
Parece que isto não é tomado na devida consideração por aqueles
que tão veementemente afirmam que o homem deve ser santificado, isto é, santo,
antes que seja justificado. Afirmar a precedência da santidade é dizer que o
Cordeiro de Deus tira somente os pecados que previamente tenham sido tirados.
4. (...)Mas, em que termos é
então justificado aquele que, além de ímpio, não possuía obras até o tempo
da justificação? Sob uma só condição, que é a fé: que ele creia “no que
justifica o ímpio”. E “aquele que crê não é condenado”, pois que “passou da
morte para a vida”.
(...)Ímpio que ouves ou lês estas palavras: tu, vil, desesperado,
miserável pecador! Intimo-te, diante de Deus, o Juiz de todos, a ires direito a
Ele, com toda a tua impiedade. Toma cuidado em não destruíres a tua própria
alma, alegando tua maior ou menor justiça. Vai como injusto, culpado, perdido,
destruído, merecendo o inferno e já para ele se inclinando; e então acharás
graça à sua vista e saberás que Deus justifica o ímpio. Nesta qualidade serás
levado ao sangue de aspersão, levado como perdido, abandonado, condenado
pecador. Olha para Jesus! Ele é o Cordeiro de Deus, que tira teus
pecados! Não alegues obras, nem justiça de tua parte; não apresentes
humildade, nem contrição, nem sinceridade. Absolutamente! Isso na realidade
seria negar o Senhor que te resgatou. Não! Menciona somente o sangue do pacto,
o resgate pago pela tua alma orgulhosa, obstinada e pecadora. Quem és tu, que
vês agora e temes tua impiedade íntima e exterior? Tu és o homem! Desejo-te
para meu Senhor! Ambiciono-te para filho de Deus pela fé! O Senhor precisa de
ti. Tu que temes estar destinado ao inferno estás, na realidade destinada a
crescer na glória de Deus, na glória de sua livre graça, justificando o ímpio e
o que não possuía obras. Oh! Vem depressa! Crê no Senhor Jesus, e tu, sim, tu,
serás reconciliado com Deus!
Texo adaptado de: Igreja Metodista, Sermões de John
Wesley, Sermão 5. Disponível em:
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