quinta-feira, 23 de abril de 2020

O Metodismo Segundo John Wesley, Parte 3: O que é JUSTIFICAÇÃO?



“Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça.” - Romanos 4:5

Poucos assuntos dentro do Cristianismo tem tanta importância – E, ao mesmo tempo, falta de compreensão – que a maneira pela qual os chamados por Deus são justificados (Rm 8:30). Importância, porque seria impossível ter paz tanto agora quanto na eternidade se a ira de Deus estivesse continuamente sobre nós como está sobre todos os injustos (Rm 1:18). Falta de compreensão, porque desde o tempo dos apóstolos heresias ja eram difundidas a respeito disso, e enganavam a muitos. Reconhecendo esse problema mesmo no século XVIII, John Wesley  prega um sermão intitulado “A Justificação pela Fé”:
“(...)Para fazer justiça, pelo que me toca, à vasta importância do assunto; para salvar os que sinceramente buscam a verdade da “vã disputa e contenda de palavras”; para esclarecer a confusão de pensamento em que tantos se têm abismado, em razão da discórdia existente, e para lhes dar verdadeiras e justas concepções acerca desse grande mistério de piedade, empreendo mostrar:

1.      Qual é o fundamento geral de toda a doutrina da justificação;
2.      O que é a justificação;
3.      Quais são os justificados; e
4.      Em que termos são eles justificados.


1.   (...)Este é, pois, o fundamento geral de toda a doutrina da justificação. Pelo pecado do primeiro Adão, que não somente era o pai, mas também o representante de todos nós, decaímos da graça; tornamo-nos todos filhos da ira, ou, na expressão do apóstolo, “o juízo veio sobre todos os homens para a condenação”. Da mesma forma, mediante o sacrifício pelo pecado, feito pelo segundo Adão, como nosso representante, Deus tão perfeitamente se reconciliou com todo o mundo, que com ele fez um novo pacto, de modo que, uma vez preenchida a simples condição imposta, “não há mais condenação” para nós, mas “somos justificados livremente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”.(...)

2.  Mas, que é ser justificado? Que é justificação? Este é o segundo ponto que me proponho ventilar. Das observações que precederam, é evidente que a justificação não consiste em ser o homem desde agora transformado em justo. Isto é santificação, que por sua vez vem a ser na verdade, em alguma medida, o fruto imediato da justificação, sem deixar de ser, não obstante, outro dom de Deus, de natureza totalmente diversa. Um implica no que Deus faz por nós através de seu Filho; o outro se prende ao que o mesmo Deus opera em nós pelo seu Espírito.

A clara noção bíblica de justificação é o perdão de pecados. É o ato de Deus Pai, pelo qual, em atenção a propiciação feita pelo sangue de seu Filho, “mostra sua justiça (ou misericórdia), pela remissão dos pecados passados”. Deus não submeterá aquele pecador ao sofrimento merecido, porque o Filho de seu amor sofreu por ele. A essa altura somos “aceitos através do Bem-amado”, “reconciliados com Deus mediante seu sangue”; Deus nos ama, abençoa-nos e guarda-nos para o bem, tratando-nos como se nunca tivéssemos pecado.

3.  (...)Quais são os justificados? E o apóstolo expressamente responde: o ímpio: “Ele (Deus) justifica o ímpio”, o ímpio de toda espécie e categoria; e ninguém, senão o ímpio (...)“que não faz boas obras”, que nenhuma obra de justiça faz antes de ser justificado, que não faz qualquer coisa que seja boa, verdadeiramente virtuosa ou santa, mas somente pratica o mal, e isto continuamente. Seu coração é necessária, essencialmente mau, até que o amor de Deus nele seja derramado. Enquanto a árvore for má, assim serão os seus frutos, “porque a árvore má não pode dar bons frutos”. Todas as obras feitas antes da justificação não são boas, no sentido cristão, pelo fato de não resultarem da fé em Jesus Cristo (embora elas possam provir de alguma espécie de fé em Deus).

Parece que isto não é tomado na devida consideração por aqueles que tão veementemente afirmam que o homem deve ser santificado, isto é, santo, antes que seja justificado. Afirmar a precedência da santidade é dizer que o Cordeiro de Deus tira somente os pecados que previamente tenham sido tirados.

4.  (...)Mas, em que termos é então justificado aquele que, além de ímpio, não possuía obras até o tempo da justificação? Sob uma só condição, que é a fé: que ele creia “no que justifica o ímpio”. E “aquele que crê não é condenado”, pois que “passou da morte para a vida”.

(...)Ímpio que ouves ou lês estas palavras: tu, vil, desesperado, miserável pecador! Intimo-te, diante de Deus, o Juiz de todos, a ires direito a Ele, com toda a tua impiedade. Toma cuidado em não destruíres a tua própria alma, alegando tua maior ou menor justiça. Vai como injusto, culpado, perdido, destruído, merecendo o inferno e já para ele se inclinando; e então acharás graça à sua vista e saberás que Deus justifica o ímpio. Nesta qualidade serás levado ao sangue de aspersão, levado como perdido, abandonado, condenado pecador. Olha para Jesus! Ele é o Cordeiro de Deus, que tira teus pecados! Não alegues obras, nem justiça de tua parte; não apresentes humildade, nem contrição, nem sinceridade. Absolutamente! Isso na realidade seria negar o Senhor que te resgatou. Não! Menciona somente o sangue do pacto, o resgate pago pela tua alma orgulhosa, obstinada e pecadora. Quem és tu, que vês agora e temes tua impiedade íntima e exterior? Tu és o homem! Desejo-te para meu Senhor! Ambiciono-te para filho de Deus pela fé! O Senhor precisa de ti. Tu que temes estar destinado ao inferno estás, na realidade destinada a crescer na glória de Deus, na glória de sua livre graça, justificando o ímpio e o que não possuía obras. Oh! Vem depressa! Crê no Senhor Jesus, e tu, sim, tu, serás reconciliado com Deus!



Texo adaptado de: Igreja Metodista, Sermões de John Wesley, Sermão 5. Disponível em:




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